Bessarabia
Uri Lam
I went straight to Gan Haparsí, the Persian garden. To me, Gan Hakessamim, the Magical Garden.
In the Gan there are five trees, two in one side, three in the other. They guard the way.
Bereshit, the beggining is a tohu vavohu, a labirynth.
Time and space altogether, nobody knows where the sky ends and the earth begins.
From this labyrinth comes a small creek. Dry creek, which soon gets wet and full of moss.
Some dams after, it keeps enclosed in leaves, which turn into woods. Only further away it is possible to dive in the waters and let yourself go in the stream.
Before one reaches this stage, one needs to find the labyrinth exit. I feel the feet and face burn in the heat of the dry ground, then slip in the moss, cross the infinite barriers and go through the secrets of the woods.
(Some have come here and entered the Gan Hakessamim woods, but did not leave. They went crazy. Or killed themselves. Only one has survived).
And when I thought that I could finally rest and be taken by the waters, I find a staircase. I look up. There is no end.
Step by step. To each step taken, there is another one to take above.
There is no end.
Step by step. Tired, some mirages start to appear here and there. Reminiscences of the path, the labyrinth, the dry creek. Going through the humid heat, between the trees in the woods.
The fear of foxes, lions, snakes and insects. I veer from ghosts and witches - the ones I can see - in the way.
And when I look to my side, I see angels walking with me in the staircase, going up and down. Jacob's Ladder.
Flying or walking or jumping around, the angels greet, smile, sing and hold hands.
A mix of the famous Chocolate Factory, Fred Astaire and Gene Kelly. I feel incredibly alive.
Finally I see a portal up above. A passage to Sucat Shalom, the peace hut. Or is it the portal to the Temple? When was it rebuilt?
I look again, astonished. But there is a wall around the portal. Closed. Concrete. The air is light, but my breathing is heavy.
My back turned towards the walled portal which was supposed to be a peace hut or the entrance to Beit Hamikdash.
I look down and see the five trees. From here they look like five leaves: two in one side, three in the other. Some are pink, others green, one is grey. I can barely see the labyrinth behind.
The woods cover my view of the river, but the dry ground ahead creates mirages which still distort the landscape of the beginning of the journey.
It´s time to go down the steps, one by one. Each step down is swallowed by the Earth.
I look around, the possibilities: return or go back and see what's behind the staircase, the portal, the hut, the Temple, the wall. I turn around.
Across the way there is another staircase, but much smaller. The path is lighter. To each step the grass grows livelier. The fragrance is delicate and sweet.
I pick up some leaves and put them close to my face. Rosemarin. I get to the other side of the wall, the Temple, the hut, the portal, the staircase.
I look down and have another perspective of the Magical Garden. Then as I feel a familiar presence, I turn.
“Grandpa Aizik! So you knew this path already?”
He smiles, kind of happy, kind of angry, frowning his forehead and eyes: “Of course, avade.”
I get a bit embarrassed. I remember our last meeting, when he said:
“Follow your profession, don't be chazen, Don't be a cantor. It doesn´t give parnusse. How can you make a living then?”
“Grandpa, I was always in this path, I chose it.
I don't know if it gives parnusse, but I know it's a lot of work! And simches also”.
He stares at me for a while and finally says:
“You were not the first one to follow this path. Remember? We came from Hotin.”
Bessarábia
Uri Lam
Fui direto ao Gan Haparsí, o Jardim Persa. Para mim, Gan Hakessamim, o Jardim Mágico.
No Gan há cinco árvores, duas de um lado, três do outro. Elas guardam o caminho.
Bereshit, o ínicio é um tohu vavohu, um labirinto.
Tempo e espaço misturados, ninguém sabe onde terminam os céus e onde começa a terra.
Deste labirinto sai um pequeno riacho. Leito seco, que logo adiante fica úmido e segue cada vez mais coberto de musgo.
Algumas barragens depois, segue fechado em folhas, que se transformam em bosques. Só mais à frente é possível mergulhar nas águas e se deixar levar pela corrente.
Antes de chegar a este estágio é preciso encontrar a saída do labirinto. Sentir os pés e as faces queimarem no calor do chão seco, depois escorregar no musgo, ultrapassar as infinitas barreiras e arriscar-se pelos segredos do bosque.
(Alguns chegaram até aqui e entraram no bosque de Gan Hakessamim, mas não saíram. Enlouqueceram. Ou se mataram. Só um sobreviveu).
E quando pensava que finalmente poderia descansar e ser levado pelas águas, chego aos pés de uma escadaria. Olho para cima. Parece não ter fim.
Passo a passo, passo a passo. A cada degrau aqui embaixo, parece que outro degrau é construído lá no alto.
Parece não ter fim.
Passo a passo, passo a passo. Degrau a degrau. Com o cansaço, algumas miragens começam a aparecer aqui e ali. Recordações do caminho, o labirinto, o leito seco do rio, Passando pelo calor úmido entre as árvores no bosque,
O medo das raposas, dos leões, das cobras e dos insetos. Desvio dos fantasmas e das bruxas – os que posso ver – no caminho.
E eis que ao olhar para o lado, há anjos comigo na trilha pela escada, subindo e descendo. Escada de Jacob.
Voando ou caminhando ou saltando ao redor, os anjos se cumprimentam, sorriem, cantam, estendem as mãos uns aos outros.
Um misto entre Lumpa-Lumpas, da Fabulosa Fábrica de Chocolates, com Fred Astaire e Gene Kelly. A sensação é de estar incrivelmente vivo.
Finalmente vislumbro o alto: um portal. Passagem para Sucat Shalom, a tenda de paz. Ou será o portal para o Templo? Quando, meu Deus, foi reconstruído?
Olho de novo, maravilhado. Mas ah, o portal está murado. Fechado. Concretado. O ar é leve, mas agora minha respiração pesa.
De costas para o portal murado do que era para ser uma tenda de paz ou a entrada para o Beit Hamikdash.
Olho para baixo e vejo as cinco árvores. Daqui se parecem com cinco folhas: duas de um lado, três do outro. Algumas rosadas, outras verdes, uma acinzentada. Mal se enxerga o labirinto ao fundo.
O bosque cobre a visão do rio, mas o chão seco lá na frente gera miragens que ainda distorcem a paisagem do início da jornada.
É hora de descer os degraus, um a um. Quanto mais desço um degrau aqui encima, a terra engole um degrau lá embaixo.
Olho ao redor, as possibilidades: retornar, ou dar a volta e ver o que há por trás dos degraus, do portal, da tenda, do Templo, do muro. Dou a volta.
Do outro lado há outra escada, mas muito menor. O caminho é mais leve. A cada passo, a relva ao redor cresce cada vez mais viva. O aroma é delicado e doce.
Recolho algumas folhas e flores e as aproximo do rosto. Rosemarin. Chego ao outro lado do muro, do Templo, da tenda, do portal, dos degraus.
Olho para baixo e tenho outra perspectiva do Jardim Mágico. Então me viro de lado, ao sentir uma presença familiar. Me emociono.
“Vovô Aizik! Então você já conhecia este caminho?”
Ele sorri, meio feliz, meio irritado, franzindo a testa e os olhos: “Faiz Favorr, avade, claro que sim.”
Fico um pouco constrangido. Lembro-me do dia em que, em nosso último encontro, ele me disse:
“Siga a sua profissão, não seja chazen, não seja cantor religioso. Não dá parnusse. Como viver disso?”
“Vô, eu sempre estive neste caminho, eu escolhi
este caminho.
Não sei se dá parnusse, mas sei que dá trabalho! E simches também”.
Ele me olha, me olha, olha outra vez, e finalmente diz:
“Você não foi o primeiro a trilhar este caminho. Lembra-se? Viemos de Hotin.”
Beis Harav.
Inspirado em atividade realizada no curso de Livui Ruchani (Acompanhamento Espiritual), Prof. Rachel Ettun, HUC, Tochnit Israeli. 12 nov. 2008 / 14 de Chesvan 5769
2 comments:
That is really beautiful. I have a feeling I'll have more to say about it later on.
The reason I follow this blog is because my maternal grandfather was from Vadul-Rashkov--I was told just "Rashkov," but thee's no other place it could be. Interestingly, I also have a Brazilian branch of the family, going back to one of my grandmother's brothers who first emigrated to New York from Bessarabia, and then after some years to Brazil where some of his descendants still live. It wouldn't surprise me if you know some of them!
Hi Raksha,
Thank you for the message and for following! We are also on facebook, with much more info:https://www.facebook.com/mamaligablues
If I'm not mistaken I think there is a place called just Rashkov as well.
What is your family name? Do you know where in Brazil your relatives live?
I live in the South and many of the Jewish community here are originally from Bessarabia.
Best regards!
Cassio
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